quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amor Incondícional




"Estou em pé junto ao leito onde jaz uma jovem, seu rosto em pós-operatório; sua boca, retorcida com paralisia, tem um quê de palhaço. Um minúsculo ramo de seu nervo facial, aquele que controla os músculos da boca, foi removido. Ela ficará assim daqui em diante. O cirurgião havia conseguido com religioso fervor a curvatura da sua carne, isso eu podia garantir. No entanto, para remover o tumor da bochecha, tive que cortar aquele nervinho.

O jovem esposo dela está no quarto. Ele está em pé no lado oposto da cama e juntos eles parecem habitar a luz vespertina da lâmpada, isolados de mim, num mundo particular. Quem são eles, pergunto a mim mesmo, ele e esta distorcida boca que fiz, que olham-se um ao outro tão generosamente, com tanta avidez? A jovem fala:

-Minha boca vai ficar assim para sempre?
-Sim - digo. - Vai ficar assim porque o nervo foi cortado.
Ela assente e silencia. Mas o jovem sorri.
-Eu gosto - Diz ele. - Acho uma gracinha.

De repente sei quem ele é. Compreendo e baixo os olhos. Não devemos ser ousados na presença de um deus. Sem nenhum constrangimento, ele inclina-se para beijar a boca torta, e estou tão perto que consigo ver como ele entorta os próprios lábios para ajustá-los ao dela, para mostrar-lhe que o beijo deles ainda funciona..."*



*Richard SELZER, M.D., Mortal Lessons: Notes on the art of surgery. Nova York: Simon and Chuster, 1978, p.45,6 .
Extraído do livro O Evagelho Maltrapilho de Brennan Manning - Editora Mundo Cristão

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